Jardim de Palavras : Que o mar leve...

A nossa história passa na minha cabeça com cenas rápidas e fortes, eu sinto as lágrimas e o som da sua risada que mesmo em frente ao mar, não deixo de escutar. Lembro da gente dançando, dos milhares de abraços que me dava de surpresa parecendo ser encantado por um feitiço, aquele sorriso é bonito demais!

Tento me conformar, eu preciso ficar longe de você, longe das pessoas que amo, longe de tudo que me faz lembrar você. Porque preciso de espaço para pensar, espaço para tirar você do meu coração, para primeiro aprender a me amar. Esse é o meu desafio. Quem sabe depois de tudo, depois que eu conseguir me amar e me valorizar primeiro, quem sabe eu volte a te ver; mas suspeito que não, eu morreria de tristeza se sentisse essa dor novamente.

Amar você foi uma maneira de fugir dos meus problemas mais profundos. E agora fico remoendo comigo mesmo, eu sei o que é o amor? Eu realmente te amei? Eu acho que não, mas não consigo explicar a dor que se instalou no meu peito desde o momento que te afastei.

Eu estava apaixonada por aquele garoto divertido e atrevido que eu olhava quando passava. Foi tão platônico! Quando te conheci realmente, vi que não era assim, acho que a gente só não se encaixava, mas lutamos para fazer dar certo. No fundo eu sabia que não ia dar em nada.O tempo não volta assim como o sol não brilha a noite, mas o que não é impossível é eu continuar sentindo nojo de mim mesma. Eu te amei, do jeito errado, mas foi amor.

***

– Ficou muito bom Lauren, como se sente com essa carta? – Minha psicóloga perguntou depois de alguns minutos de eu a ter lido em voz alta.

– É estranho, íntimo demais escrever sobre isso. Mas me sinto mais leve eu acho.

– Como se sente consigo mesma? – Pergunta me olhando nos olhos, impedindo que eu deixe seu olhar.

– A verdade?

– A verdade. – Seu rosto suaviza, suspiro e falo:

– Gostaria de ser outra coisa, nem pessoa gostaria de ser. Quando sai do banho ainda podia me lembrar do que passei quando criança, queria me encolher ou talvez desaparecer. – Então começo a chorar de novo.

Essa era o meu novo eu. Chorar por tudo, e negar a mim mesma.

– E o que gostaria de ser, se pudesse escolher? – Perguntou com a voz baixa.

– Não sei, talvez a areia do mar. Quando as ondas vem parece que as carrega junto, e gostaria que levasse todo esse sentimento o mais fundo possível.

– Aquilo que aconteceu, passou. Você sabe que pode mudar o que sente por você mesma, basta se permitir.

Me levanto devagar e saio da sala. É tão difícil, como um bloqueio. Entro no meu quarto e escrevo uma nova carta:

Sr. A você me machucou, e está doendo até hoje. E digo isso por ter se passado longos anos de perturbação. Agora te excluo da minha vida, não quero pensar no que aconteceu, quero me aceitar e tirar toda essa dor. Já está na hora de me libertar, e talvez não funcione, mas aposto todas as minhas esperanças nisso.

Adeus, Sr. A,

Lauren

***

Com lágrimas nos olhos, corro para fora da casa com a carta na mão. Choro de soluçar ajoelhada diante do mar. Esse é o momento. Eu odeio Sr. A. Me levanto e me liberto deixando que uma onda carregue a carta e me limpe por dentro.

Minha psicóloga me abraça de lado, eu sei que foi o certo e sei que está orgulhosa de mim depois de tudo que passamos juntas. Mais uns dias organizando os pensamentos e eu poderia ter minha vida de volta. Que o mar leve todas as minhas impurezas de uma vez por todas, para me permitir viver de verdade.